quarta-feira, 7 de maio de 2008

Audição

O som daquela palavra arrepiou-me - INSPIRAS-ME!

Aqueles momentos estavam repletos de música, primeiro o embalo do som do mar, faltava o silêncio espaçado da chuva a cair, mas havia as fontes, o eco dos nossos passos!

Ouvi a minha inspiração lenta e profunda, depois ouvi a tua, o flash ... gostava que um dia me guardasses os silêncios olhados em fotografias, a preto e branco, claro, para que só nos fique na memória o tilintar das cores que dançam, livres!

O restolhar das sombras, a cadência da pedra na tua mão - tudo era música! O grito do semáforo e dos pássaros do jardim, como um só... a tua voz a dizer as minhas palavras:

- Às vezes gosto de falar sobre coisas sérias. Sabes, eu no fundo não sou quem pareço ser, é apenas uma máscara - roubei-te a pedra da mesma forma que me tinhas roubado o pensamento e voltei a ser menina, sem máscara, sem medo! Tirei as botas, não resisti a jogar descalça, reparaste nas meias! Sorri...

- Eu também! - também gosto de te fotografar o sorriso, sem máquina, para que dance com as cores, ao som desta música que embala o tempo!

Gosto da poesia no som da tua voz, gostei de te ouvir dizer que me tinhas feito um poema, surpreendi-me, não gostas de escrever! Fiquei curiosa, sou curiosa! E a minha curiosidade sai-te dos bolsos em melodias de espanta-espiritos de chaves e moedas ... e um flash de há muito tempo, andas comigo no bolso! Eu guardo-te em local mais recatado ... no amarfanhado do papel que desembrulhas, porque te INSPIRO!

Encosto o meu ouvido ao teu peito, para te sentir pulsar de ânsia enquanto me perguntas se gostei...

Se gostei!!!

- Podias dizer aquele poema ... o que me saiu dos dedos e num bramir suave te pousou nos olhos!

5 comentários:

Anónimo disse...

Há palavras que nos beijam como se tivessem boca. E eu? Sou o outro.

João Doi disse...

Os teus olhos emanaram Aquele brilho.

- Não gosto de recitar. E não penses que me ando a alimentar das tuas palavras… – talvez devorar seja a palavra correcta – mas vou tentar.

Ajoelhei o pé esquerdo, estendi a mão na tua direcção, segurei-te pelo pulso e com um deslizar das pontas dos dedos lia palma da tua mão. Sorri-te…

Escalei um banco do jardim, olhei o céu, limpei a garganta e anunciei:

- Damas e cavalheiros, plantas e animais, pedras desgastadas e gotas de orvalho, entes presentes e ausentes, excelentíssimo público. É com extremo deleite que vos vou tentar deliciar com um poema de uma mui guapa jovem aqui presente, - pisquei-te um olho - intitulado “Quem és?”.

Então declamei:

- Hei-de contar-te em todas as palavras
- Hei-de espalhar-te em memórias e ventos
- Hei-de afogar-te em violentas vagas
- Mas vou guardar-te em todos os momentos

- Serás da lua uma chuva de prata
- Do azul do céu serás o infinito
- Em cada ferida és dor que não me mata
- Mas que me arranha a voz a cada grito

- Em cada sorriso vais ser luz
- Cavalo branco e cavaleiro andante
- Véu de mistério que envolve e seduz
- Senhor da minha aura, meu amante

- E se o meu sangue se juntar à terra
- Na escuridão de não saber quem sou
- À solidão vazia ganho a guerra
- Transformarei em sonho o que te dou!

Fiz uma vénia. Voltei a calçar o chão de terra cada vez mais batida após um salto mortal à retaguarda imaginário e encostei-me a ti. Vesti-te o meu braço aos ombros e retomamos de novo o caminho.

Subimos uma ponte velha feita de pedras velhas que pairava sobre um pequeno curso de água em constante renovação. Debruçaste-te sobre aquele conjunto tosco de troncos que serviam de protecção nos lados da ponte. A água ao fundo espelhava o brilho lunar dos teus olhos e o seu ondular fazia serpentear os teus cabelos imóveis. Não resisti e, como quem sacia a sede na água de um rio, em câmara lenta molhei os lábios com um beijo no teu pescoço.

Num ápice, a tua atenção focou-se para a direita ao ouvires algo que despertou a tua curiosidade.

Anónimo disse...

Olá…

Não sou analista de inspirações…

Mas pelo que tenho lido, não é preciso fotografar, para ver que estamos perante uma grande química de inspiração nestes textos :)

Mais uma voltinha mais uma locuraaaaaaaaaaaaaaaaaa

Anónimo disse...

Está bonito está...estou a gostar do blog e fico contente por saber que disperta interesse de alguém que "ainda" não pertence ao grupo do carrossel ;)

Quando quiseres aparece doidoi serás sempre bem recebido adinal..."No carrossel ha sempre lugar para mais um"

R.G.

João Doi disse...

Obrigado Raquel :º)