quinta-feira, 8 de maio de 2008

Que importa?

E declamaste, no seguimento da apresentação teatral! que saudades do teatro... que saudades do palco... que saudades dos sonhos!

E foste tu nas tuas palavras, aquelas que te escrevi, antes de ser Lia, antes de ser Esfinge, antes das horas!

"Quem és?", não o sabia, continuo sem o saber, sem te saber!

... e transformo sempre em sonho o que te dou...

3 comentários:

João Doi disse...

Questionaste-te acerca de que poderia ser aquele barulho. O som soava a familiar mas era tão distante que era quase impossível de o identificar no meio do som dos pássaros, do som das bicicletas, do som das crianças a brincar, do som dos nossos corações, do som das árvores, do som da água.

Peguei numa pedra e atirei-a à água. A pedra quase que raspou na cabeça de um pato. Quác, grasnou o pato. Chuác, respondeu a pedra. Adoro o barulho que as pedras fazem ao bater com força na água.

-És doido, quase que acertavas no pato.
-Foi ele que me provocou.
-És completamente doido.
-Completamente não. Acho que sou só meio doido ou um bocadinho mais que isso.
-Ah! Então, se és meio doido és só doi. É isso?
-Sim. Sou.
-Doi, - disseste enquanto soltavas uma sonora gargalhada – a partir de agora vou-te chamar de Doi.
-Doi? João Doi?
-Sim.

Acho que sempre o fui mas só não o sabia.

Começamos de novo a caminhar. Enquanto tentava perceber a diferença entre o barulho de calcar uma folha seca amarelada e o barulho de calcar uma folha seca acastanhada, continuavas fixada em tentar distinguir o que poderia ser aquele som que chamou a atenção do teu ouvido direito.

De repente, descobriste! De repente, estatelaste-te no chão.

-Aqui dói?- perguntei ao colocar a mão, por cima da bota, no teu tornozelo.
-Dói.
-E aqui dói?- perguntei ao suavemente esfregar o teu joelho.
-Dói. Ai!
-E aqui dói? - perguntei, ao acariciar com tempo a parte interior da tua coxa.
-Dói, João! Ai, pára!
-Tenho que ver se estás bem. Aqui dói?
-JOÃO, DÓI! Dói em todo o lado. Não viste o tombo que dei?
-Decide-te! João Doi ou João Dói? - e tu riste.
-Isto passa, tá a doer um bocadinho mas já passa, está bem? - disseste mais calma.

Encolhi os ombros e libertei um suspiro. Afinal, foi maior o susto que o prejuízo. Ao ver que estavas bem, castiguei-te com uma palmada no ombro.

-Ai, porque me bateste?
Isto foi por me teres confundido com ele!
-Ele? Ele quem?
-Sei lá. Tu é que sabes quem ele é. Eu não sou ele. Acho que não sou ninguém de especial mas também acho que deverias saber quem não sou. Pelo menos ao ponto de não me confundires co m ele. Eu não sou ele. Eu sou eu.

Definitivamente, não estavas a seguir o meu raciocínio. Expliquei.

-Na estação de metro, já te esqueceste? Confundiste-me com outra pessoa com um casaco igual ao meu. O hábito não faz o monge- concluí, como se a frase fizesse algum sentido no contexto.

Enquanto falavamos e caminhavamos, agora mais devagar acabamos por saír do parque. Ao virar no cruzamento seguinte deparamo-nos com um descampado. Pousada em cima desse descampado, erguia-se uma feira popular ambulante. Dirigiste-te como um relâmpago directa ao carrossel e ficaste boquiaberta de espanto com a sua beleza e tamanho. Segui-te a trote.

-Queres mesmo saber quem sou? - continuei - Para não te confundires outra vez. Segue-me, vou-te dizer. Espero não me vir a arrepender.

Saltei para dentro mesmo com o carrossel em movimento. Tu ficaste a admirar, a ver passar, e a sentir a roda a girar e a ver os coches, os tigres, os galos, os cavalos e outros animais que tais.

Ao fim da volta viste-me a aparecer sentado num cavalo branco com uma sela castanha. Estendi-te a mão. Das colunas ouvia-se a voz que dizia:
-Venha andar no carrossel. Menina bonita não paga... mas também não anda.

Provavelmente ao ver-me estender-te a mão, a voz fez uma pausa de um batimento cardíaco e meio e disse:

Excepto tu cara linda. Sim, tu de camisola preta e mãos esfoladas.Tu podes andar sem pagar. Mas não demores a entrar que o carrossel não vai parar, apenas vai andar um pouco mais devagar até acabares de te sentar.

Fiquei a olhar para ti e comecei a contar os clings, das rodas mecânicas por baixo, que demoravas a tomar a tua decisão. À tua volta um mar de gente que esperava a vez para andar, e outras que tinham acabado de saír pararam e fitaram-te. A voz nas colunas silenciou-se e a música parou. Todos os corações que nos observavam pararam de bater ao mesmo tempo. Os clings deixaram de se ouvir, os pássaros calaram-se,o relógio voltou a parar, o vento amainou e a água parou de correr, todos à espera de ver o que irias fazer...

Anónimo disse...

Bemmmmmm Desculpem mas este Joao não é Doi mas sim um doidoi.

Muito bem escreves bem mas sinceramente prefiro a nossa escritora original.

R.G.

João Doi disse...

É, provavelmente, a segunda ou terceira vez em 30 anos que escrevo prosa. Ainda bem que gostas.

Por isso, mais uma vez, obrigado Raquel.